Brasil assumiu neste sábado o comando das negociações da conferência
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, em um esforço para
evitar um fracasso da cúpula que reunirá 130 líderes na próxima semana,
no Rio, para selar um acordo mundial pelo meio ambiente e a luta contra a
pobreza.
Os negociadores de mais de 190 países esgotaram nesta
sexta-feira o prazo final para alcançar o acordo negociado durante cinco
meses, destinado a selar a transição do mundo para uma economia verde e
social.
Como país anfitrião da conferência, a quarta do tipo
convocada pela ONU desde 1972, o Brasil lidera uma corrida contra o
relógio, com o objetivo de alcançar um acordo nesta segunda-feira, antes
da chegada dos chefes de Estado e de governo que encerrarão a
conferência com uma cúpula entre quarta e sexta-feira.
Atualmente, menos de 40% do texto final têm consenso, ou seja, há acordo em apenas 116 dos 315 parágrafos.
"Estamos
diante dos dois dias mais difíceis da negociação" expressou à AFP a
negociadora-chefe da Venezuela, Claudia Salerno. "Temos confiança no
Brasil, que mostrou iniciativa em outras negociações", expressou.
O
Brasil tinha previsto apresentar um novo texto aos negociadores que,
durante meses, discutem cada vírgula e conceito das 81 páginas do
documento.
"Os negociadores têm que começar a aceitar grandes
partes do texto", afirmou no sábado Nikhil Seth, diretor de
Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Enquanto os técnicos discutem
em árduas sessões cada um dos pontos da declaração, da transição do
mundo a uma economia verde à preservação dos oceanos, a presidente
brasileira, Dilma Rousseff, se preparava para viajar à cúpula do G29, no
México, onde na segunda e na terça-feira os grandes países
desenvolvidos e emergentes discutirão um tema muito mais imediato: a
inquietante crise econômica e financeira.
O chefe da delegação
brasileira, Luiz Alberto Figueiredo, disse que Dilma pode abordar os
temas da conferência Rio+20 em seus contatos com outros líderes no
México. "É previsível que haverá contatos no México sobre a Rio+20",
disse.
A crise paira sobre as negociações da Rio+20, onde os
países do sul se queixam de que os ricos são mais relutantes em adotar
grandes decisões e deixaram de aportar a ajuda ao desenvolvimento que
desembolsaram no passado.
"Estão desmantelando a ajuda
internacional e a querem substituir com caridade do setor privado",
disse à AFP o chefe das negociações da Bolívia, René Orellana.
"Não
é fácil às vezes discutir questões ambientais quando se tem que lidar
com uma crise econômica. Mas temos que entender que a resposta à crise
também radica em mais reconciliação o meio ambiente", disse à AFP o
comissário europeu para o Meio Ambiente, Janez Potocnik, assegurando que
a Europa mantém seu compromisso histórico de alcançar 0,7% do PIB para a
cooperação internacional até 2015, quando agora beira os 0,4%.
Lasse Gustavsson, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), pediu "um
milagre" aos negociadores para alcançar um acordo. "Precisamos que
nossos líderes sejam sérios para assegurar bastante comida, água e
energia" para todo mundo sem esgotar os recursos naturais, afirmou.
A
40 km do Riocentro, onde transcorre a conferência, se celebra a Cúpula
dos Povos, um evento paralelo que reúne indígenas e ativistas de todo o
planeta que tenta empurrar os governantes a um acordo concreto que
enfrente os graves problemas do planeta e busque alternativas para a
"economia verde" defendida pela conferência oficial.
Recentes
estudos revelam que o mundo precisa urgentemente de soluções. Segundo
cifras da ONU, a demanda por alimentos aumentará 50% até 2030 e a de
energia, 45%, em um contexto de aumento da desigualdade social, escassez
de água e aumento da temperatura do planeta que mostram que seus
recursos se esgotam.
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