A polêmica das sacolinhas
Os primeiros dias após o fim da distribuição das embalagens plásticas nos mercados são marcados por dúvidas, filas e confusão
Um acordo entre o governo do estado, a prefeitura municipal e a
Associação Paulista de Supermercados (Apas) baniu, desde o dia 25, a
distribuição gratuita de sacolas plásticas em 2.600 lojas com o objetivo
de reduzir o descarte de 6,6 bilhões de embalagens por ano (1,8 bilhão
delas só na capital). A iniciativa tem por trás uma louvável preocupação
com o meio ambiente. Além de ser derivado do petróleo, o produto
demoraria até 400 anos para se decompor depois de jogado no lixo, de
acordo com alguns estudos. Como o tal acordo não tem valor de lei, a
adesão é voluntária. Na cidade, 95% dos supermercados já embarcaram na
campanha, cujo slogan é a frase "Vamos tirar o planeta do sufoco". A
maior parte da população também se mostra simpática à ideia. Segundo
pesquisa divulgada na semana passada pelo instituto Datafolha, 57% dos
paulistanos apoiam a mudança.
Esse clima favorável entre a
opinião pública, porém, não se refletiu nos humores de quem precisou
passar pelos caixas na semana passada. Apesar da farta divulgação,
muitos acabaram pegos de surpresa. Mesmo as pessoas que se preveniram
para esta nova fase confessam ainda estar confusas sobre como substituir
as sacolinhas. "Está difícil", dizia a pedagoga Sueli Castanho Nastri,
enquanto pagava a conta na loja do Pão de Açúcar da Vila Clementino, na
Zona Sul. Sua dificuldade era encontrar a melhor opção para levar as
compras. Já tentou usar caixas de papelão, que, embora sejam
distribuídas sem custo, nem sempre estão disponíveis. Também
experimentou uma sacola retornável de tecido, cuja alça se rompeu com o
peso. "Estou acostumada a levar mercadorias para duas semanas, mas hoje
só vou adquirir comida para o dia, porque não sei mais como transportar
grandes quantidades", contou. O presidente da Apas, João Gallassi, no
entanto, aposta que as dificuldades serão passageiras. "É preciso um
tempo de adaptação para que tudo se ajeite", acredita.
Para
substituir as antigas embalagens, as empresas oferecem agora sacolas
biodegradáveis. Elas são produzidas a partir de amido de milho e levam
de seis meses a dois anos para sumir do planeta. Ou seja, essa versão
seria uma evolução em termos ambientais. O inconveniente do negócio é
que os mercados estão cobrando pelo produto (0,19 real, em média). "Não
acho justo onerar o consumidor e lucrar com algo que antes era oferecido
gratuitamente", afirma a publicitária Joan na Sottomaior. Segundo a
Apas, o valor cobrado é o preço de custo da embalagem verde. Empresários
do setor dizem ainda que a venda será provisória. "Numa segunda fase do
programa, essas sacolas também vão sair de circulação. Elas estão sendo
oferecidas agora apenas para não deixar as pessoas na mão", diz Felipe
Zacari Antunes, gerente de sustentabilidade do Walmart Brasil.
Outra
queixa comum dos consumidores é terem de se programar para fazer
compras, carregando para o ponto de venda suas próprias embalagens, caso
não queiram pagar pelas sacolas biodegradáveis. "Saí de casa para
resolver várias coisas e decidi passar na venda", conta o corretor Lucas
Nascimento. "Precisei levar tudo na mão." Até mesmo os iniciados
sofrem. A agente de turismo Tatiana Ribeiro tem uma coleção de ecobags,
caixas dobráveis e de papelão, e sabe muito bem onde acomodar da melhor
forma cada item adquirido. "O problema é que levo uns vinte minutos para
guardar tudo, e as pessoas no caixa olham feio", diz. A demora dos
clientes em acondicionar as mercadorias antes de levá-las para casa —
especialmente em carrinhos, que exigem cuidados para que os alimentos
frágeis não sejam esmagados — também vem contribuindo para o aumento das
filas.
Grandes redes como Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour,
além de outros mercados menores, criaram gôndolas recheadas de opções
para os órfãos das sacolinhas. Cinco dias antes do fim da distribuição, o
Pão de Açúcar, que vende catorze tipos de ecobag, reduziu o preço de
seus sacos de ráfia (um tipo de plástico mais resistente) de 2,99 reais
para 1,99 real. A rede Dia assinou o termo de compromisso com a Apas de
banir a distribuição, mas só o fez em cerca de cinquenta endereços na
capital. Em outros 100, incluindo os da Vila Madalena e da Vila Mariana,
as velhas sacolinhas à base de petróleo ainda são fornecidas — o que
tem atraído muitos fregueses. "Vou continuar vindo aqui, porque acho
mais negócio", afirma a estudante Luiza Gomes. Por meio de sua
assessoria, o Dia informou que o material em questão é sobra de estoque e
sumirá gradualmente de suas lojas.
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