O recado de Al Gore no Rio de Janeiro
No 24 Horas de Realidade, o consultor em sustentabilidade e
apresentador oficial do projeto liderado por Al Gore, Roberto Vámos,
falou sobre a crise do clima pela qual a Terra passa e lembrou que sua
solução está em nossas mãos. Saiba o que você pode fazer para
transformar a realidade
Pode ser que, em algum lugar do universo, exista uma Terra onde a
temperatura não está aumentando, as tempestades não se tornam mais
devastadoras, as enchentes não causam mais estragos e as secas não matem
plantações, animais e pessoas. Mas, infelizmente, isso não ocorre aqui.
Na nossa Terra, passamos por uma crise climática de efeito destruidor.
Mas a boa notícia é que as soluções para esse problema está em nossas
mãos.
Essa foi uma das mensagens do Rio de Janeiro durante o
evento 24 Horas de Realidade, realizado nos dias 14 e
15 de setembro, em 24 cidades de todo o mundo. A ação foi promovida pela
ONG The Climate Reality Project*, do
ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, e contou
com palestras de especialistas em mudanças climáticas, transmitidas
online, para mostrar que a crise climática existe e impacta a vida de
todos nós.
Direto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o mundo
todo ouviu Roberto Vámos, consultor em eficiência e
sustentabilidade para negócios e apresentador oficial do The
Climate Reality Project, que foi treinado pessoalmente por Al
Gore. Segundo os organizadores do evento, cerca de sete milhões de
pessoas visitaram o site até o começo da apresentação brasileira.
Vámos
começou sua apresentação expondo eventos extremos ocorridos
recentemente, como:
- a inundação que atingiu o Paquistão
no ano passado e desabrigou 20 milhões de pessoas;
- a enchente do
começo do ano na Austrália, que abrangeu uma área maior
do que a Alemanha e a França juntas e afetou cidades inteiras;
- as
chuvas torrenciais que caíram na China que inundaram
regiões inteiras e afetaram 8,5 milhõs de pessoas;
- o super tufão
Megi, que atingiu as Filipinas e o Tawain
e causou a tempestade mais intensa da história, desalojando 350 mil
pessoas, e
- a destruição causada em Teresópolis, Petrópolis
e Nova Friburgo, por conta das chuvas intensas que
caíram no começo do ano.
"Infelizmente essas cenas se repetirão
com mais frequência", afirmou Vámos. Ele explicou, também, por que as
chuvas estão se tornando mais intensas em todo o mundo. De acordo com os
cientistas, isso ocorre porque o ambiente em que as chuvas se formam
mudou devido às atividades exercidas pelos homens. Ou seja, pelo aumento
do volume de gases causadores do efeito estufa que lançamos à
atmosfera. "Não só cientistas dizem isso. A companhia de seguros Munich
Re, uma das maiores do mundo, afrima que a única explicação plausível
para o aumento das catástrofes é a mudança climática", disse.
Nos
últimos 200 anos, como explicou Vámos, a temperatura do planeta vem
crescendo. Como a temperatura aumenta, mais água evapora dos oceanos
para a atmosfera. Então a água que evaporou se precipita, na forma de
chuva ou neve. "Acontece que o ar mais quente pode conter muito mais
vapor d’água. Cada 1oC que aumenta, a capacidade da atmosfera de reter
vapor d’água cresce 7%. E nos últimos 30 anos cientistas observaram que
já há 4% mais vapor d’água na atmosfera", explicou. Assim, se
intensifica o cenário de chuvas e nevascas
mais fortes, causando enchentes maiores e mais frequentes.
Por
outro lado, as secas também se tornam mais intensas em
todo o mundo. "O mesmo calor que causa mais evaporação nos oceanos
remove a umidade do solo, com ainda mais rapidez", disse. E lembrou de
diversos eventos, como a onda de calor que causou queimadas na Rússia no
ano passado. Por causa da fumaça tóxica que tomou o país, 50 mil
pessoas morreram. Além disso, depois de quatro meses houve um aumento
recorde no preço mundial dos alimentos, já que as exportações de grãos
da Rússia, Ucrânia e Cazaquistão foram interrompidas após as secas e
incêndios.
Roberto Vámos também criticou as pessoas que negam a existência da
crise climática e dizem que não há um consenso cientifico
sobre o aquecimento global. "Não é verdade. A realidade é que as
academias de cientistas de muitos países confirmam que o aquecimento
global foi causado pelos homens. O número de academias que rejeitam isso
é zero", afirmou. E citou que algumas delas fizeram um anúncio conjunto
de que a necessidade de ação para enfrentar as mudanças climáticas é
urgente e indiscutível.
Portanto, segundo Vámos, os céticos do
clima apresentam factoides para esconder a realidade e colocar o
aquecimento como teoria e não fato. No entanto, 12 linhas de evidência
mostram um aquecimento significativo causado pelo homem. Algumas delas
são as mudanças no nível do mar, no volume das geleiras, no calor nos
oceanos, na temperatura da superfície do mar e na extensão do gelo nos
mares.
Mas, a boa notícia, segundo Vámos, é que encontramos
algumas soluções. "Se um garoto de 14 anos pode construir um gerador
eólico para iluminar seu vilarejo no Malawi, então podemos solucionar a
crise climática", disse. Vámos citou projetos de energia eólica
na China e no Brasil, além de um futuro promissor para a energia solar.
Há iniciativas de conversão da luz em energia em lugares como Serra
Leoa, Marrocos, Espanha, Estados Unidos e Vaticano. O último país já
instalou painéis solares e quer ser o primeiro carbono neutro do mundo.
"Outra boa notícia é que a capacidade voltaica instalada nos Estados
Unidos dobra a cada ano. Isso quer dizer que o custo tem caído e que
novas usinas elétricas a carvão estão sendo canceladas", comentou.
A
energia geotérmica, que usa o movimento da terra para
gerar eletricidade, também já é usada em larga escala nas Filipinas e na
Islândia, onde mais de 50% da geração de energia vem desta fonte.
No
Brasil, Vámos destacou o posto no bairro carioca Barra da Tijuca, que
abastece carros elétricos com energia do sol. Mas lamentou que o país
esteja sob ameaça de facilitar o desmatamento de suas florestas com a
possível aprovação no Senado do novo Código Florestal (leia Cientistas
são contra mudanças no Código Florestal)
Então,
diante dessa crise climática, o que podemos fazer para lutar pela sua
solução? Ajudar nesse caminho foi um dos objetivos do 24 Horas
de Realidade e, como em outras cidades, o representante do Rio
de Janeiro deu suas sugestões. Veja algumas delas e procure fazer o que
possa para mudar nossa realidade:
- Manifeste-se:
ganhe a conversa, não deixe os céticos ficarem sem contestação e use a
mídia social e tradicional para erguer a sua voz. Você pode, também,
participar de ONGs como o The Climate Reality Project, a Iniciativa
Verde* - indicada por Vámos - ou muitas outras que atuem pela educação
ambiental da população e contra o aquecimento global;
- Aprofunde
seu comprometimento como consumidor: faça escolhas que reduzem
o seu consumo de energia e considere o impacto ambiental dos produtos
que compra;
- Não desista: diga aos líderes que
esse assunto é de suma importância, apoie aqueles que agirem para
solucionar a crise climática ou fique contra aos que impuserem
barreiras.
"Essa é a única Terra que teremos, amaremos e
cuidaremos para os nossos filhos e filhos deles", advertiu Vámos.
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