Maldivas: o lado sujo do paraíso
Meio escondida na paisagem deslumbrante das Maldivas, uma ilha feita
de lixo atinge o máximo de sua capacidade e começa a poluir a água em
volta
País formado de 1 200 pequenas ilhas de coral de areia branca
pontilhadas de resorts nas águas azuis do Oceano Índico, as Maldivas são
sinônimo de turismo de luxo. Indústria em expansão, maior fonte de
renda do arquipélago, há vinte anos o número cada vez maior de turistas
criou um problema novo: onde pôr o lixo (3,5 quilos por dia, por pessoa)
que ele produz?
A solução foi encontrada em Thilafushi, antiga
lagoa submersa, mas rente à superfície, meio escondida a 7 quilômetros
da capital, Malé, cujas margens o governo decidiu aterrar com detritos
vindos de toda parte. No início, buracos eram cavados nas bordas da
lagoa, o lixo era lançado lá e coberto de areia. Aos poucos, a pilha foi
subindo e foi se formando uma ilha artificial feita do lixo
transportado diariamente das cidades e dos hotéis por balsas.
Incentivadas pelo governo, pequenas fábricas se instalaram no local,
voltadas principalmente para a produção de barcos e de material
reciclado. Com elas vieram moradores — cerca de 150 catadores migrantes,
a maioria de Bangladesh, se instalaram em meio à sujeira e à fumaça
sempre presentes. Hoje em dia, o aterro de 50 hectares não comporta mais
nem uma latinha, detritos cobrem a lagoa e o mar em volta, substâncias
tóxicas poluem solo e água e Thilafushi ganhou o apelido de "ilha do
lixo" — uma mancha no cenário paradisíaco.
Calcula-se que mais
de 300 toneladas de lixo sejam despejadas todos os dias e que a ilha
aumente 1 metro quadrado por dia. Funcionários em barcos lotados, pouco
dispostos a entrar na fila de até sete horas para descarregar, acabam
lançando a carga em qualquer parte. "Dá para ver equipamentos
eletrônicos, baterias usadas, material com amianto e chumbo e outros
produtos potencialmente perigosos misturados ao resíduo sólido municipal
sendo lançados na água. Ainda é uma parcela pequena do total, mas mesmo
assim é uma fonte de metais pesados tóxicos e uma ameaça cada vez mais
séria ao meio ambiente e à saúde nas Maldivas", diz o ambientalista Ali
Rilwan. No começo do mês, o governo fechou o acesso por alguns dias,
para limpeza.
Não vai adiantar, dizem os ambientalistas locais — sem medidas mais drásticas, um novo transbordamento é questão de tempo.
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