sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Diversão de Humanos, Sofrimento Ambiental

Nos dias 10 e 11 de dezembro, seres humanos “apaixonados” por natureza irão realizar uma trilha com o intuito de desfrutar de um lugar de belezas cénicas, rica vida selvagem e praticamente deserto.
Seria até poético e ambientalmente consciente se este passeio não fosse feito com jipes. Não falamos de uns poucos, sim de cerca de 50, 60 veículos, cruzando por uma faixa de praia que de deserta não tem nada, pois há sim muita vida nos cerca de 220 Km que estão previstos a serem percorridos, dos quais, cerca de 150 Km, com quase nenhuma presença humana de forma direta (por isso considerado deserto).
Porém, esta é uma área assolada seguidamente por atividades humanas extremamente danosas a estes ecossistemas, como a pesca industrial em período reprodutivo de espécies de tubarões e arraias e a ocupação da área de dunas por cabeças de gado, que pastam livremente, alimentando-se do capim responsável pela fixação e criação dunas. Agora, tal região será palco de mais uma agressão deliberada a este ambiente extremamente frágil.
Um “passeio” de jipe, envolvendo diversos veículos, nesta época do ano, seria de grande prejuízo para as aves costeiras e marinhas migratórias, que têm nestes quilômetros de praia um refúgio para descanso, e uma área de extrema importância para a sua alimentação, uma vez que grande parte das espécies encontradas na região nesta época do ano é migratória, e realiza tal movimento justamente pelas razões apontadas acima.
O trânsito de vários veículos na beira da praia provoca a revoada dos bandos de aves, consumindo suas reservas de energia, pois têm que alçar voo a cada passagem de veículo, bem como as impedindo de alimentar-se para repor tais reservas de energia.
Imaginem se fossem os senhores tentando almoçar, e a cada 3 minutos alguém tocasse a campainha de sua casa ou o seu telefone chamasse insistentemente, impedindo-os de terminar sua refeição. Sem dúvida isso chatearia muito a vocês.
Mas todo o descrito acima se refere apenas ao bom senso e ao respeito que nós, seres humanos, deveríamos ter com o ambiente em que vivemos e compartilhamos com outros seres vivos.
Vejamos agora o tal “passeio” sob a ótica da legislação brasileira, começando pelo Código Brasileiro de Trânsito, que não reconhece as faixas de praia como sendo vias para trânsito de veículo, e mais, o tratamento dado pelos órgãos que regulamentam o trânsito de veículos as tratam como sendo de tráfego proibido, senão vejamos.
Quantas placas de sinalização de trânsito ou semáforos os senhores já avistaram nas faixas de praia (a desconsiderar situações de orientação de transeuntes)?
Em caso de acidente, está previsto a retirada do seguro DPVAT? Penso ser pouco provável.
Qual órgão tem obrigação de fiscalizar e orientar o trânsito na faixa de praia? Desconheço.
Além disso, caso o condutor tenha ingerido bebida alcoólica e esteja dirigindo sob efeito de álcool, pois nestas “jipadas” é muito comum o consumo de bebidas alcoólicas, pode ser punido caso pego no famoso teste do bafômetro (etilômetro)?
Outro ponto que desrespeita a legislação brasileira diz respeito à conservação do património histórico natural, pois nesta faixa de praia encontra-se a maior jazida fossilífera do Pleistoceno, período geológico que teve seu término há cerca de 60 mil anos e que deixou vários registros da presença da fauna da época, sendo que no litoral do extremo sul do Brasil tais fósseis são encontrados facilmente jogados pelo mar na praia. São conchas, chifres de cervos, dentes de tubarões, carapaças de tatus gigantes, mandíbulas de tigres dentes-de-sabre, garras de preguiça gigante, entre outros tantos que se encontram espalhados por cerca de 50 quilômetros da faixa de praia, formando um imenso “tapete” de fósseis. Pois é justamente nesta faixa de ocorrência que os veículos irão transitar, simplesmente destruindo um patrimônio histórico natural que pertence a todos os cidadãos brasileiros.
Por último, tal atividade é desprovida de licenciamento ambiental, uma vez que não é nem um evento oficial e não está sendo realizada por nenhuma instituição habilitada para a realização de tal evento, e mesmo se fosse, e sempre a um se, estaria desrespeitando dois princípios fundamentais do Direito Ambiental brasileiro, que norteiam as leis ambientais brasileiras, a Precaução e a Prevenção.
Não se tem idéia do impacto ambiental que uma “jipada” destas pode causar ao ambiente costeiro. Seria necessário avaliar o impacto provocado pelo trânsito de veículos de forma consecutiva em um curto período de tempo, sobre as aves, crustáceos, moluscos e demais fauna presente, além da emissão de gases poluentes em grande quantidade num espaço de tempo reduzido. Por fim, a destruição das dunas pelas quais os veículos transitam, pois a grande diversão destas pessoas é saber o que sua máquina é capaz de fazer.
Esta situação ainda não ocorreu, e os órgãos competentes tem tempo hábil e soluções rápidas que podem ser adotadas para impedir tal absurdo de ocorrer, pois este é um evento que está sendo anunciado, sim, anunciado pela internet. Convenhamos que impedir que crimes como estes ocorram fica bem mais fácil quando são anunciados como e quando vão ocorrer. Segue o anúncio para que todas as autoridades competentes e a sociedade brasileira tome conhecimento:




Foto: Reprodução Pelotas 4x4
Foto: Reprodução Pelotas 4x4




O Pelotas4×4 realiza nos dias 10 e 11/12 o I Passeio Rota do Mar. O evento contemplará as belezas da maior praia do mundo, um dos cartões postais da nossa região, avistando naufrágios, animais silvestres e marinhos, alem dos faróis Sarita, Verga, Albardão (Aberto a visitação), e do Chuy. A programação prevê também uma parada para almoço, compras nos free-shops e uma pernoite em pousada na praia da barra (por conta de cada participante). O retorno à Pelotas será no domingo à tarde. Participe, pegue seu 4×4 e faça parte desta aventura!

O que? I Passeio Rota do Mar Pelotas4×4
Quando? Dias 10 e 11/12/2011
Onde? Saída pontualmente às 6:00Hs do Posto Dom Joaquim/Pelotas
O que Levar? Combustível extra, ferramentas, cinta p/reboque, rádio PX ou Walk-talk, protetor solar, guarda-sol, agasalhos, chapéus ou bonés, máquina fotográfica ou filmadora, lanches rápidos, corte de carne p/almoço no disco, água potável, bebidas geladas e disposição!
Para Saber Mais: Acesse Faróis do RS
Informações: pelotas4×4@hotmail.com / Barra do Chuí: (53) 3265.1006.

Pois aí está.
Agora façamos nossa parte para impedir que tal desrespeito à vida marinha e à conservação ambiental não ocorra, não só desta vez, mas para todos os eventos futuros deste tipo.
Divulguem o máximo que puderem nestes poucos dias que restam. Quem sabe assim chamamos a atenção das autoridades brasileiras para este tipo de atividade extremamente danosa.
A vida marinha agradece.

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