Nos dias 10 e 11 de dezembro, seres humanos “apaixonados” por
natureza irão realizar uma trilha com o intuito de desfrutar de um lugar
de belezas cénicas, rica vida selvagem e praticamente deserto.
Seria até poético e ambientalmente consciente se este passeio não
fosse feito com jipes. Não falamos de uns poucos, sim de cerca de 50, 60
veículos, cruzando por uma faixa de praia que de deserta não tem nada,
pois há sim muita vida nos cerca de 220 Km que estão previstos a serem
percorridos, dos quais, cerca de 150 Km, com quase nenhuma presença
humana de forma direta (por isso considerado deserto).
Porém, esta é uma área assolada seguidamente por atividades humanas
extremamente danosas a estes ecossistemas, como a pesca industrial em
período reprodutivo de espécies de tubarões e arraias e a ocupação da
área de dunas por cabeças de gado, que pastam livremente, alimentando-se
do capim responsável pela fixação e criação dunas. Agora, tal região
será palco de mais uma agressão deliberada a este ambiente extremamente
frágil.
Um “passeio” de jipe, envolvendo diversos veículos, nesta época do
ano, seria de grande prejuízo para as aves costeiras e marinhas
migratórias, que têm nestes quilômetros de praia um refúgio para
descanso, e uma área de extrema importância para a sua alimentação, uma
vez que grande parte das espécies encontradas na região nesta época do
ano é migratória, e realiza tal movimento justamente pelas razões
apontadas acima.
O trânsito de vários veículos na beira da praia provoca a revoada dos
bandos de aves, consumindo suas reservas de energia, pois têm que alçar
voo a cada passagem de veículo, bem como as impedindo de alimentar-se
para repor tais reservas de energia.
Imaginem se fossem os senhores tentando almoçar, e a cada 3 minutos
alguém tocasse a campainha de sua casa ou o seu telefone chamasse
insistentemente, impedindo-os de terminar sua refeição. Sem dúvida isso
chatearia muito a vocês.
Mas todo o descrito acima se refere apenas ao bom senso e ao respeito
que nós, seres humanos, deveríamos ter com o ambiente em que vivemos e
compartilhamos com outros seres vivos.
Vejamos agora o tal “passeio” sob a ótica da legislação brasileira,
começando pelo Código Brasileiro de Trânsito, que não reconhece as
faixas de praia como sendo vias para trânsito de veículo, e mais, o
tratamento dado pelos órgãos que regulamentam o trânsito de veículos as
tratam como sendo de tráfego proibido, senão vejamos.
Quantas placas de sinalização de trânsito ou semáforos os senhores já
avistaram nas faixas de praia (a desconsiderar situações de orientação
de transeuntes)?
Em caso de acidente, está previsto a retirada do seguro DPVAT? Penso ser pouco provável.
Qual órgão tem obrigação de fiscalizar e orientar o trânsito na faixa de praia? Desconheço.
Além disso, caso o condutor tenha ingerido bebida alcoólica e esteja
dirigindo sob efeito de álcool, pois nestas “jipadas” é muito comum o
consumo de bebidas alcoólicas, pode ser punido caso pego no famoso teste
do bafômetro (etilômetro)?
Outro ponto que desrespeita a legislação brasileira diz respeito à
conservação do património histórico natural, pois nesta faixa de praia
encontra-se a maior jazida fossilífera do Pleistoceno, período geológico
que teve seu término há cerca de 60 mil anos e que deixou vários
registros da presença da fauna da época, sendo que no litoral do extremo
sul do Brasil tais fósseis são encontrados facilmente jogados pelo mar
na praia. São conchas, chifres de cervos, dentes de tubarões, carapaças
de tatus gigantes, mandíbulas de tigres dentes-de-sabre, garras de
preguiça gigante, entre outros tantos que se encontram espalhados por
cerca de 50 quilômetros da faixa de praia, formando um imenso “tapete”
de fósseis. Pois é justamente nesta faixa de ocorrência que os veículos
irão transitar, simplesmente destruindo um patrimônio histórico natural
que pertence a todos os cidadãos brasileiros.
Por último, tal atividade é desprovida de licenciamento ambiental,
uma vez que não é nem um evento oficial e não está sendo realizada por
nenhuma instituição habilitada para a realização de tal evento, e mesmo
se fosse, e sempre a um se, estaria
desrespeitando dois princípios fundamentais do Direito Ambiental
brasileiro, que norteiam as leis ambientais brasileiras, a Precaução e a
Prevenção.
Não se tem idéia do impacto ambiental que uma “jipada” destas pode
causar ao ambiente costeiro. Seria necessário avaliar o impacto
provocado pelo trânsito de veículos de forma consecutiva em um curto
período de tempo, sobre as aves, crustáceos, moluscos e demais fauna
presente, além da emissão de gases poluentes em grande quantidade num
espaço de tempo reduzido. Por fim, a destruição das dunas pelas quais os
veículos transitam, pois a grande diversão destas pessoas é saber o que
sua máquina é capaz de fazer.
Esta situação ainda não ocorreu, e os órgãos competentes tem tempo
hábil e soluções rápidas que podem ser adotadas para impedir tal absurdo
de ocorrer, pois este é um evento que está sendo anunciado, sim,
anunciado pela internet. Convenhamos que impedir que crimes como estes
ocorram fica bem mais fácil quando são anunciados como e quando vão
ocorrer. Segue o anúncio para que todas as autoridades competentes e a
sociedade brasileira tome conhecimento:
O Pelotas4×4 realiza nos dias 10 e 11/12 o I Passeio Rota do Mar.
O evento contemplará as belezas da maior praia do mundo, um dos cartões
postais da nossa região, avistando naufrágios, animais silvestres e
marinhos, alem dos faróis Sarita, Verga, Albardão (Aberto a visitação), e
do Chuy. A programação prevê também uma parada para almoço, compras nos
free-shops e uma pernoite em pousada na praia da barra (por conta de
cada participante). O retorno à Pelotas será no domingo à tarde.
Participe, pegue seu 4×4 e faça parte desta aventura!
O que? I Passeio Rota do Mar Pelotas4×4
Quando? Dias 10 e 11/12/2011
Onde? Saída pontualmente às 6:00Hs do Posto Dom Joaquim/Pelotas
O que Levar? Combustível extra, ferramentas, cinta
p/reboque, rádio PX ou Walk-talk, protetor solar, guarda-sol, agasalhos,
chapéus ou bonés, máquina fotográfica ou filmadora, lanches rápidos,
corte de carne p/almoço no disco, água potável, bebidas geladas e
disposição!
Para Saber Mais: Acesse Faróis do RS
Informações: pelotas4×4@hotmail.com / Barra do Chuí: (53) 3265.1006.
Pois aí está.
Agora façamos nossa parte para impedir que tal desrespeito à vida
marinha e à conservação ambiental não ocorra, não só desta vez, mas para
todos os eventos futuros deste tipo.
Divulguem o máximo que puderem nestes poucos dias que restam. Quem
sabe assim chamamos a atenção das autoridades brasileiras para este tipo
de atividade extremamente danosa.
A vida marinha agradece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário