domingo, 24 de julho de 2011

Compromisso ambiental



A melhor maneira de apreciar a natureza é se aproximar dela respeitosamente. Essa foi a lição praticada no projeto do Parque Ecológico Imigrantes, que ainda usa componentes desmontáveis para evitar resíduos no futuro
Nada mais afinado do que escolher dois arquitetos cuja atuação prioriza soluções de baixo impacto ambiental e a conservação dos recursos naturais para criar um parque dedicado à educação ambiental. Foi exatamente o que avaliou a equipe da Fundação Kunito Miyasaka, dedicada à promoção da integração Brasil-Japão, e que acalentava a ideia de erguer um espaço dedicado ao ecoturismo e ao estudo da mata Atlântica. O terreno já estava definido: 484 mil m2 repletos de vegetação cerrada, a apenas 34,5 km da capital paulista - às margens da caudalosa rodovia dos Imigrantes. "Era perfeito", avalia Newton Massafumi Yamato, que desenvolveu o projeto em parceria com Tânia Regina Parma, ambos do escritório Gesto Ambiental. "A área faz divisa com o Parque Estadual da Serra do Mar e fica num importante corredor faunístico", explica Newton a respeito das visitas ocasionais de macacos, roedores e até felinos. "Ademais, próximo da região metropolitana não existem outras zonas naturais que se possa visitar, vivenciar mesmo", diz ele.

Veja a galeria de fotos do projeto Parque Ecológico Imigrantes

Acesso facilitado e experimentação verdadeira então tornaram-se lemas do trabalho. Consequente, a dupla optou pela implantação nas três clareiras preexistentes, sem machucar a vegetação. Cada uma acomodaria células destinadas ao pequeno auditório, à biblioteca interativa e a salas para oficinas ou workshops. Para a circulação, pensaram em passarelas suspensas, cravadas pontualmente no solo, de modo a preservar a topografia e as árvores nativas. Uma primeira ideia - erguer essa estrutura com madeira - foi abandonada. Tânia e Newton preferiram o aço porque julgaram que o material de fonte renovável não venceria o vão de até 80 m entre os blocos. A lógica do mínimo impacto levou-os também a planejar uma estrutura modular para ser usada nas três construções elevadas. "Nossos objetos e casas devem ser passíveis de montar e desmontar, evitando a demolição e uma montanha de resíduos", justifica Newton Massafumi, numa conceituação que sugere uma versão simplificada da análise do ciclo de vida dos materiais e edifícios - paradigma atual na sustentabilidade (leia mais sobre isso na matéria Material sustentável: desafio pelo caminho).

CERTIFICAÇÃO PARA TRAZER CREDIBILIDADE
Para coroar, os arquitetos ainda sugeriram aos clientes que buscassem a certificação AQUA, já obtida na fase de programa e sob análise para a etapa de projeto. "Como a Fundação está em busca de parceiros para viabilizar a iniciativa, achamos que um selo traria credibilidade", diz Newton. Ele está animado. Em novembro de 2010 foi inaugurada a pedra fundamental e a expectativa é de que tudo se realize em breve, inclusive os planos futuros, que preveem a instalação de outros módulos na floresta.

ACESSIBILIDADE É QUESTÃO FUNDAMENTAL
• Como o plano é permitir a visitação de todos, eliminando barreiras para pessoas portadoras de restrição de mobilidade, os arquitetos adotaram medidas facilitadoras. A primeira delas ajuda os usuários a percorrer as centenas de metros que separam o acesso principal dos módulos fechados do parque: uma cabine instalada sob a passarela principal, dotada de um sistema pendular, transporta os passageiros. Os visitantes ainda poderão tomar elevadores e chegar às trilhas na floresta. Elas partirão de diferentes níveis no terreno (cada uma correspondendo a uma parada do maquinário) e seguirão mata adentro sem oferecer grande dificuldade, permitindo aos frequentadores do parque a vivência plena do ecossistema.

• Passarelas largas e seguras foram desenhadas com 3 m para servir à circulação das pessoas - essa medida permite facilmente o giro de uma cadeira de rodas, por exemplo - e convidar à convivência. Planas, elas trarão placas imensas de vidro instaladas no piso, incrementando o caminho e possibilitando momentos propícios à observação da copa da árvores. A equipe da Gesto Ambiental também estudou uma maneira de instalar no trajeto pequenas placas fotovoltaicas, capazes de gerar a energia necessária para prover a iluminação noturna e os balizadores.

Projeto de arquitetura: Gesto Ambiental (Newton Massafumi Yamato e Tânia Regina Parma)
Estrutura metálica: Ycon Engenharia
Instalações elétricas e hidráulicas: Sandretec Consultoria

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