domingo, 10 de julho de 2011

Dois problemas e uma mesma solução Erguer habitações populares de maneira responsável pode resolver não somente a falta de moradia como também o impacto ambiental causado pelas obras


Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que o déficit habitacional no Brasil chega a quase 8 milhões de unidades. Mas essa pode ser uma boa notícia. Com o empenho dos governos em reduzir significativamente tal número, cresce a chance de o país se tornar um exemplo em construções de interesse social com baixo impacto no meio ambiente.

Soluções tecnológicas que permitam agrupar os dois temas já são conhecidas há décadas. "Existem pesquisas reunindo moradias populares, eficiência energética e redução no consumo de água durante a construção e na fase de ocupação do imóvel", diz Maria Augusta Justi Pisani, professora de pós-graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Ela também cita trabalhos relacionados ao uso de peças pré-moldadas, capazes de baratear e agilizar a obra. O problema reside no fato de esses estudos encontrarem pouca ressonância em estados e municípios. Em 2009, por exemplo, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e a Caixa Econômica Federal (CEF) criaram um concurso para destacar propostas de interesse social focadas em sustentabilidade. Venceram projetos em Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. Até o momento, nenhum saiu do papel.

Cabe agora aliar diretrizes públicas ao cuidado com o meio ambiente e a soluções de mercado. "Muitas experiências comprovam a eficácia de metodologias já disponíveis, mas precisamos achar uma maneira de reproduzi-las em escala grande o suficiente para reduzir o custo", diz Maria Augusta. "Elas ainda são caras e o mercado resiste em adotá-las por não saber como obter lucro", aponta. Por esse motivo, há décadas segue-se um padrão equivocado. "Infelizmente, desde os anos 70, as moradias populares são modelos de construções mal planejadas e mal-acabadas, que privilegiam a quantidade. Dezenas de conjuntos habitacionais foram levantados da mesma forma, sem considerar aspectos bioclimáticos, de conforto ambiental e de eficiência energética", resume o engenheiro Marcelo Takaoka, do Centro Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), sediado na capital paulista.

Como solução, os especialistas recomendam incluir as casas populares verdes nas políticas de estado a fim de garantir ações coordenadas. Atualmente, há uma preocupação crescente com a normatização de itens como tijolos, blocos, telhas, tubulações, componentes elétricos e hidrossanitários, mas isso se deve mais a critérios de licitação do que propriamente à consciência ambiental. Além do mais, quesitos menos relacionados à unidade habitacional, como a atenção ao entorno, não são contemplados na maioria dos projetos. Como se vê, o caminho ainda é longo - mas nem por isso impossível de percorrer.

CONJUNTOS HABITACIONAIS VERDES
• Desde 2007, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Estado de São Paulo, vem implantando técnicas construtivas e tecnologias amigas do planeta. O projeto Serra do Mar deve atender a 7 580 famílias removidas de locais de proteção ambiental em Cubatão, SP. Ao todo, serão 5 mil novas unidades, 1 800 delas já entregues. Há versões destinadas a idosos e deficientes físicos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário